quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Um Padre, Um Menino, Um Jegue e Um Pneu de Caminhão


O Caos é muito injustiçado.

As pessoas convivem com ele dia após dia, alguns desavisados até mesmo o chamam de deus, mas muito poucos dão a ele o valor que ele merece.

Observando que a função da Ordem é limitar, é do Caos que sai a liberdade.

Admitindo que o extremo Caos seja o Tudo, e supondo que ele estivesse num pequeno espaço (imagine uma forma comprimida, em terceira dimensão, contendo todas as formas, todas as cores, todos os tamanhos e zas), dali poderíamos tirar toda e qualquer coisa que interessasse, que não interessasse ou até coisa alguma, só pra satisfazer vontades ou não.

Aplicando isso a uma coisa concreta (e ao mesmo tempo tão abstrata), dê uma olhada na música (ou anti-música para algumas pessoas). Falo de música caótica, "extrema", noise, coisas neandertais e/ou talvez coisas à frente de seu tempo, tão (des)agradável. Pode parecer uma idéia tosca, mas, talvez ao ouvir (e isso se aplica a quaisquer outros sentidos) o caos, as pessoas estejam ouvindo (sentindo) Tudo - ou o mais perto disso, a depender do nível de caóticidade - ao mesmo tempo.

Veja como, realmente poeticamente, o Caos é tão grandioso:
Quando não se sabe o que alguém está dizendo, aquele alguém diz tudo. Ou nada.
Kurt Cobain que o diga. Ou não.
É espontaneamente lindo.

E, logo, não existe barulho, apenas ouvidos destreinados.
.
Por que ouvir uma só coisa, então, quando podemos ouvir tudo? Bem, precisamos nos limitar. Essa é a questão. Limite, d'A Ordem, é o que respiramos. Quando começamos uma música ou poesia, sabemos que uma hora teremos que acabá-la, dar uma ultima nota ou um ponto final. Voltamos a estaca zero, de quando estavamos sem a tal arte, mas isso faz parte essencialmente dessa nossa realidade. Até por não ser o completo caos enquanto for finito, nós não temos esse poder, por mais longe que possamos chegar, de atingir o caos propriamente dito. Assim como é com deus.

Por falar em deus (com d, com D, com s, com S ou com $), não é de se admirar que as pessoas confundam mesmo o Caos com ele, né? Afinal, se deus é uma força que rege o acontecer natural das coisas, um outro nome pra ele seria Acaso (primo-irmão do Caos, ambos tão amigos do Tudo). Só resta saber se isso é ou não inteligente. Vai ver seja inteligente às vezes. Mas restaria, ainda assim, saber o que é que determina o às vezes. Vai ver, é inteligente quando quer. Mas pra isso precisaria ser sempre, né? Vai ver, quem diz é a gente.

Pra não perder meu encerramento obceno habitual de duas vezes, pau no caos do sistema, ora pois.


Por: Levi Marques

Um comentário:

Larissa Cavadas disse...

Interessante ponto de vista. Mas o caos quanto música, de tão Tudo que seja, pode acabar sendo o nada. Dois extremos um tanto quanto desconfortáveis.

Beijão ;*